Teresa me pediu um poema, mas um poema não sei escrever. Sou uma contadora de histórias e só sei me expressar dessa forma. As histórias simplesmente brotam, narrativas que me pertencem, que me escolheram. Elas crescem no seu próprio formato, sem que eu tenha muita interferência. Por isso sei que sou uma contadora de histórias e não uma poetisa.
O que mais me impressiona nos poemas, são as entrelinhas, os vários significados, os versos. Entendo pouco desse emaranhado de sentimentos e signos. Acredito que seja mais básica, quando escrevo, tenho dificuldade com as camadas.
Teresa tem me ajudado. Tem me inspirado a falar da minha linha da vida e da minha ancestralidade. Quero contar a história de meus avós quando cruzaram o oceano no porão de um navio em 1957. Diferente de outros, que por aqui chegaram escravizados, eles vieram porque escolheram. Queriam prosperar no país do futuro. No Brasil, meu avô deixou sua profissão de alfaiate e se aventurou no comércio. O tradicional português da lanchonete, da padaria, do botequim. Minha avó, sempre ao seu lado, preparando seus quitutes e criando os 3 filhos que vieram consigo no navio e o que veio na barriga e só nasceu em terras brasileiras.
Quero contar a história da minha bisavó, que provavelmente foi raptada pelo meu bisavô de sua aldeia/comunidade quando ainda era apenas uma criança. Provavelmente de alguma etnia indígena, ninguém sabe, porque a história se apagou. E ela infelizmente não está mais aqui para contar. Dela tenho uma forte lembrança de afeto. E o gosto pelos felinos. Além dos muitos filhos que teve e dos muitos filhos que criou, ela também adotou muitos gatos. Sentada em sua poltrona na varanda, como uma verdadeira rainha em seu trono, estava sempre rodeada por eles. Sentia que era sua maior felicidade. Quando ela morreu, todos sumiram. E o preferido, definhou e morreu junto.
São histórias que ainda quero contar, mas nessa noite de sábado vai esse gostinho do que está por vir. Não em forma de poema, Teresa, porque isso não posso te dar
* Texto elaborado a partir da provocação da Teresa Cárdenas na aula no SESC Niterói.